Nos últimos anos, cursos e treinamentos utilizando a estratégia de imersão têm se popularizado.
No entanto, esse clima de “modinha” tem levado a um desgaste natural dessa abordagem, em grande parte devido a equívocos que estão descaracterizando essa estratégia.
Neste contexto, apresento algumas reflexões e ponderações sobre as imersões, com foco no treinamento e desenvolvimento nas empresas.
Resumidamente, podemos dizer que a estratégia de imersão idealmente é uma experiência de aprendizado profunda e intensiva, onde os participantes estão completamente imersos em um determinado ambiente, tópico ou atividade. Ela difere das tradicionais aulas expositivas ao colocar o aluno no centro do processo de aprendizado, proporcionando um ambiente interativo, dinâmico e motivador.
Entretanto,algumas imersões podem gerar uma sensação de frustração com o passar dos dias e semanas. O maior vilão é a curva de esquecimento, sem dúvida! A questão é que a curva de esquecimento é uma consequência natural e não uma causa.
A raiz do problema está na utilização dessa estratégia como um fim em si mesma e não como um meio, ou melhor, como um dos componentes em uma jornada de aprendizagem. Este é o primeiro ponto que desejamos chamar a atenção: para uma imersão ser bem-sucedida, precisa ser entendida como um componente em um processo de aprendizagem, sendo inapropriada para um conjunto completamente novo de conhecimento, muito menos extensivo.
A principal característica de uma imersão bem-sucedida é uma experiência que proporcione intensidade e profundidade. Ambas requerem uma seleção restrita de habilidades a serem desenvolvidas, ou seja, conteúdos focados.
Imersões com múltiplos conteúdos, com o objetivo de desenvolver múltiplas habilidades, tendem a ser desfocadas, mal estruturadas e sobrecarregadas de aulas expositivas e palestras, como forma de empurrar o maior volume de conteúdo possível em pouco tempo. É importante focar em um conjunto restrito de conhecimento/habilidades que já esteja sendo desenvolvido pelo grupo de aprendizes.
Se o foco for proporcionar uma experiência realmente intensiva e profunda de aprendizado, é melhor que aprendam e consolidem um conjunto restrito de conhecimento que produzirá uma mudança real de execução e comportamento, em vez de sobrecarregar o cognitivo com um vasto conjunto de conhecimento que rapidamente será esquecido.
Por outro lado, é quase impossível dar intensidade e profundidade para um conhecimento completamente novo. O processo de aprendizado requer preparação, ou seja, sinalização para o cérebro de que o conteúdo é amigável, útil e que existem âncoras prévias que podem ser utilizadas para absorção de um novo conhecimento ou aprofundamento de um existente.
Portanto, uma imersão bem-sucedida deve ser aplicada a um saber ou habilidade que já seja previamente conhecido pelo grupo de aprendizes. Mesmo quando aplicada a um grupo que já possui os conceitos básicos de um determinado tema, é fundamental uma estratégia de preparação, que envolva engajamento e nivelamento dos conceitos, da linguagem e nível mínimo de operacionalidade. Outro ponto é ter uma estratégia de reforço previamente definida; somente o reforço contínuo e devidamente programado é a forma mais adequada de combater os efeitos da curva de esquecimento.
Então, se você deseja utilizar a abordagem da imersão em sua jornada de aprendizado, não como um evento isolado, construa sua imersão para ter três fases: I) engajamento e nivelamento; II) trilha de aprendizado com conteúdos focados e experiências significativas; III) estratégia de reforço ao longo de um período razoável.